terça-feira, 15 de maio de 2012

O caminho de regresso a casa...


Quando passamos um dia inteiro a respirar o cheiro bafiento e informal dos ares condicionados, o reencontro com o exterior surge quase como que uma renovação ou um renascimento sensorial. E aí podemos deixar fluir a viagem dos sentidos. Empobrecemos quando tomamos este processo de forma puramente inconsciente...
Era final de dia em Lisboa! O ar corria seco e abafado, mas ao cumprimentar gentilmente as ruas da tarde percebi que o calor não era único na bagagem do tempo. O cheiro quente, agridoce e envolvente desta tarde sul americana que Maio trouxe até Lisboa, escreveu nos meus passos que havia de voltar aqui. É o hoje o dia!
Nessa tarde, Lisboa tinha as cores fortes de um mural onde Rivera politizou as suas obras. O frenesim que se ouvia nas esquinas podia soar às cordas de um qualquer guitarrón mexicano. Se fechasse os olhos, conseguia imaginar-me numa viagem de jipe por Quintana Roo, onde as terras em tom de pimentão doce ofuscam o azul por cima do mundo. Nessa tarde, Lisboa era um mundo com todos os cheiros por dentro e eu sentia-me de volta.
É quando somos chamados a regressar à própria viagem que nos sabemos vivos e temos a certeza que está na hora de nos fazermos ao caminho. Por isso estou aqui! Sem qualquer tipo de desilusão ou vergonha sobre os quase 3 anos de ausência. É que isto de deitar bocados de nós cá para fora tem a sua estrada e o seu tempo, e acontece só mesmo quando tem de ser. E assim é tudo tão mais fácil...
Aos poucos (mas muito bons!!!) que foram acompanhando o "Hoje é o Dia!" devo um pedido de desculpas. Ou então não! Mas deixo-o na mesma! No limite, fui mais vazia de espírito por não alimentar este blog e, também no limite, fui alguém menos rico e estimulante no que ao intelecto diz respeito, para as pessoas que me estão próximas. Por isso, volto a pedir desculpa!
Confesso que ainda não percebi bem o que vai sair deste novo tempo em que também sou o seu produto (do tempo). A vida é o que fazemos dela, mas ela também tem responsabilidade acrescida sobre o que faz de nós.
O que importa se sei ou não o que estou aqui a fazer? Isto é como na fé. Como diz alguém de quem tenho muitas saudades: o que é que interessa se Deus existe ou não? O importante é se acreditamos, ou não, na sua existência.

Até já. :)
AP
15.05.2012