sexta-feira, 10 de julho de 2009

Por Eça de Queiroz



"No vão do arco, como dentro de uma pesada moldura de pedra, brilhava, à luz rica da tarde, um quadro maravilhoso, de uma composição quase fantástica, como a ilustração de uma bela lenda de cavalaria e de amor. Era no primeiro plano o terreiro, deserto e verdejando, todo salpicado de botões amarelos; ao fundo, o renque cerrado de antigas árvores, com hera nos troncos, fazendo ao longo da grade uma muralha de folhagem reluzente; e emergindo abruptamente dessa copada linha de bosque assoalhado, subia no pleno resplendor do dia, destacando vigorosamente num relevo nítido sobre o fundo do céu azul-claro, o cume airoso da serra, toda cor de violeta-escura, coroada pelo Palácio da Pena, romântico e solitário no alto, com o seu parque sombrio aos pés, a torre esbelta perdida no ar, e as cúpulas brilhando ao sol como se fossem feitas de ouro."

Eça de Queiroz in Os Maias
Foto: AP

Este é o retrato da intemporalidade da romântica e bucólica Sintra. Do "vão do arco" do Palácio de Seteais onde Eça pintou este quadro de palavras, que ainda hoje permanece como se tivesse parado no tempo.

Ao João Silva.

AP

2 comentários:

PF disse...

Só tu para veres uma coisa destas com a profundidade que o cenário merece. És linda!

PF

AC disse...

"... Muere lentamente quien evita una pasión y su remolino de emociones, justamente estas que regresan el brillo a los ojos y restauran los corazones destrozados."

Pablo Neruda

Esta tarde, enquanto andava a pé pela ciudad de La Serena (capital da região de Coquimbo)lembrei-me de ti ao ler esta passagem de Pablo Neruda. Decidi partilhar. O que não vai mal, penso mesmo que talvez vá em boa altura.
Amanhã, a caminho de Santiago, espero visitar 'La Chascona', a casa de Pablo Neruda transformada em museu. Por aqui, diz-se que morreu de tristeza aquando da dissolução do governo de Salvador Allende. No mínimo curioso.

Espero que estejas bem.

Besos.

AC