segunda-feira, 22 de junho de 2009

A verdade do 'sonho' intemporal


Do Asteróide B612 para o planeta Terra, aproveitou a boleia de uma migração de pássaros selvagens, à procura de amigos. O seu planeta era muito pequeno. Só tinha espaço para três vulcões e uma rosa, que lhe partiu o coração pela alma orgulhosa que transportava. O menino de cabelos cor de ouro que passava o tempo a fazer perguntas, mas que nunca respondia ao que lhe era perguntado.
Li-o dezenas de vezes.
Amei a ingenuidade sábia com que foi escrito. A melodia doce com que reduz a nossa existência a uma deliciosa gargalhada, apenas porque adora aprender. E aprender é sinónimo de viver.
Apaixonei-me pela forma como ensina que o ruído enferrujado de uma roldana velha, faz adivinhar uma fonte de água fresca no meio do deserto. Com cheiro de fogo e sabor de inocência. Ainda tenho em mim a alegria que brota do ranger de qualquer uma roldana que encontro por aí, pelos desertos.
Acho que o li dezenas de vezes.
Quando era pequena queria ser como ele. Hoje, percebo que já fui e que já passou. É confortante recordar a passagem e sentir que, realmente, existiu. Em suspiros de nostalgia, descobri que me deixou aprender que a vida é mais simples que complicada. Mais colorida que cinzenta. Que é melhor morrer de amor do que saborear o vazio.
Um dia ouvi alguém dizer: "O Principezinho, que presente fantástico para oferecer a uma criança". Que barbaridade! Das maiores que já conheci. O Principezinho não é um livro para crianças. É para pessoas grandes. As crianças são crianças. As crianças gostam, não gostam, vêem ovelhas dentro de caixas e preocupam-se com os espinhos que as rosas produzem há tantos milhões de anos. E com flores, e com estrelas e crepúsculos. "Um dia vi o sol pôr-se quarenta e três vezes. Quando se está muito triste, sabe bem ver o pôr-do-sol". Preocupam-se com coisas sérias. Mesmo sérias, como o pôr-do-sol. As crianças não precisam que as ensinem a ser crianças. Já as pessoas (que se dizem) grandes... Continuam a achar que um elefante dentro de uma jibóia é um chapéu. Que não têm tempo de regar as rosas e de cobri-las com uma redoma por causa das correntes de ar. Porque se preocupam com coisas sérias. Idiotas.
Devo tê-lo lido dezenas de vezes.
Mas quase não me lembro. Entranhei-o, faz parte de mim, está cá dentro. E sou criança para sempre.


"À noite, pões-te a olhar para o céu e, como eu moro numa estrela, como eu me estou a rir numa delas para ti, é como se todas as estrelas se rissem. Vais ser a única pessoa no mundo que tem estrelas capazes de rir".

E foi assim que o Principezinho se despediu do seu amigo, que o seria para sempre. Da mesma forma que qualquer passageiro da vida se despede - com orgulho ridículo - da idade da qual, mais tarde, desejará não ter saído. A diferença para o meu Principezinho reside nas gargalhadas das estrelas. São elas que vão iluminar a noite e chamar-me à janela antes de dormir.
Vou lê-lo, com toda a certeza, mais umas dezenas de vezes. Vou voltar a reencontrar os acendedores de candeeiros, os reis, os homens de negócios, os geógrafos. Esses homens 'sérios'. Agradecer-lhes as respostas às perguntas, mas informá-los que prefiro continuar a cuidar da rosa que só tem três espinhos para se defender do Mundo inteiro.

AP
Aos meus 'principezinhos': Pedro, Carolina e Mariana.

2 comentários:

Isabel disse...

As crianças acham tudo em nada, mas as pessoas grandes não conseguem achar nada em tudo.

O segredo está em vêr (e viver) para além da matéria. Vêr com tu vês, com o coração.

Isa

Li disse...

Querer ensinar as crianças que os sonhos são disparates é ridículo. Poucas coisas são tão humilhantes. E seria uma tragédia enorme se elas acreditassem nisso.

Beijos com saudades,

Desta Li.